.
O Racionalismo Cristão, por ser uma filosofia espiritualista, divulga princípios universais para que sejam estudados e, após a necessária reflexão, colocados em prática, tornando os seres humanos espiritualmente independentes.
______________________________________________________________________________________

LUIS DE MATTOS, O CODIFICADOR DO RACIONALISMO CRISTÃO

Por Antonio Cottas, o surgimento do Racionalismo Cristão, confunde-se com a história de seu codificador, Luiz de Mattos. Resumidamente, assim aconteceu!

Nasce Luiz José de Mattos Chaves Lavrador, na Vila de Chaves, Província de Trás-os-Montes, Portugal, em 5 de janeiro de 1860; filho de José Lavrador, espanhol e de D. Casemira Julia de Mattos Chaves.

Aos 13 anos, em 1873, veio para o Brasil, desembarcando no Rio de Janeiro, onde o esperava o seu tio Victorino de Mattos Lavrador, negociante em Santos, que o internou no Colégio São Luiz, em Botafogo, para seguir os estudos.

O desejo de Luiz de Mattos era de vir para Santos-SP para ficar na companhia dos seus tios Victorino e João de Mattos Chaves.

Partiu assim, autorizado por seus tios, para Santos, empregando-se numa importante casa de estivas – secos e molhados no atacado – e da qual se passou, mais tarde, para o comércio de café, desenvolvendo aí grande atividade.

Dotado de uma inteligência incomum, assimilou tudo com incrível facilidade, neste novo rumo de comércio, nada havendo que Ele não soubesse fazer com perfeição, inclusive ensacar, empilhar, separar e qualificar o café.

Seus chefes, que muito o estimavam e admiravam, despacharam-no para o interior de São Paulo e Minas, com a incumbência de comprar e obter consignações de café.

Entregue a essa nova atividade, fez ele as mais elevadas relações com políticos, fazendeiros, negociantes, industriais, literatos, etc., chegando a alcançar as maiores simpatias entre compradores e vendedores de café, sendo, em breve, o mais considerado dentre os seus colegas.

Despedindo-se da casa em que trabalhava, para se estabelecer, iniciou-se, como comissário de café; seu capital era pequeno, mas as excelentes relações que tinha no interior e a sua grande simpatia concorreram para que, ao saberem-no estabelecido, os fazendeiros mandassem-lhe a maior parte das suas colheitas, e assim foi fazendo uma casa importante, a ponto de tornar-se a maior casa portuguesa em Santos, naquela época, exportadora de café.

Conhecedor profundo da matéria, prestimoso e pontualíssimo na prestação de contas aos seus comitentes, alastrou-se a propaganda da sua casa de tal forma que os fazendeiros, mesmo os que não o conhecessem, lhe faziam grandes consignações.

Sempre ativo e trabalhador, Luiz de Mattos chegou logo a possuir considerável fortuna. Foi fundador de diversas empresas no Rio de Janeiro e em Santos; dentre elas a Companhia Industrial, a Companhia Carris de Ferro, etc. Convém observar que esta última foi organizada em época de grandes dificuldades financeiras. Só mesmo seu irresistível prestígio poderia conseguir traduzir em realidade uma idéia que demandava de pronto avultado capital.

Além destas e outras empresas, Luiz de Mattos foi igualmente o fundador da Sociedade Humanitária dos Empregados do Comércio, do Real Centro da Colônia Portuguesa, etc.

Entre outros serviços humanitários, destacam-se os que desveladamente fez à Sociedade Portuguesa de Beneficência de Santos.

Achava-se em completa decadência essa instituição benemérita, quando Luiz de Mattos, ainda materialista, mas impulsionado pela grande generosidade de sua alma, pôs ombros à espinhosa e árdua tarefa de levantá-la da prostração em que se achava.

Foi tanta a sua dedicação, tão desvelado, tão intenso o ardor com que se atirou a esse trabalho, que em pouco tempo conseguia ver coroados do melhor êxito os seus nobilíssimos esforços.

A Sociedade Beneficente de Santos ficou em ótimas condições, no mesmo pé de igualdade das mais importantes agremiações congêneres existentes no Brasil. Nessa Sociedade teve ele o título de Benemérito.

Eleito Diretor da Associação Comercial de Santos, por diversas vezes, a ininterrupta recondução ao cargo era a melhor prova da estima que os brasileiros e portugueses lhe tributavam.

Benemérito, por índole, de tudo que dava não admitia alarde; os beneficiados, porém, não se podiam conter e de boca em boca tornavam conhecido o bem que ele fazia.

No Asilo da Infância Desvalida de Santos, desde jovem, foi ele incluído no número de seus grandes Benfeitores.

A todas as instituições humanitárias ele comparecia, com prazer, auxiliando-as tanto quanto lhe era possível.

Grande abolicionista, amigo dedicado de José do Patrocínio, Júlio Ribeiro, Chico Glicério, Campos Sales, Bernardino de Campos, Santos Pereira, Luiz Gama e outros, bateu-se sempre pela abolição.

Quando promulgada a Lei de 13 de maio, ele, o Dr. Manoel Homem de Bittencourt e outros brasileiros e portugueses realizaram em Santos esplêndidas festas em comemoração ao grande acontecimento, que fazia entrar definitivamente o Brasil no convívio das nações civilizadas.

Embora havendo nascido em Portugal, era tão brasileiro como os aqui nascidos, visto ter desde criança, acompanhado, com vivo interesse, o progresso e trabalhado pela felicidade do povo brasileiro, com ele e por ele se batendo ao lado dos nacionais honrados daquele tempo, que acima dos interesses do bolso sabiam colocar os da Pátria.

Esquivou-se, embora descontentando muito os amigos, de aceitar o lugar de representante do povo paulista, como Deputado, por não querer deixar o cargo de Vice-Cônsul de Portugal, que vinha exercendo, nobremente, desde 1887, e mesmo por entender que não devia naturalizar-se, pois um ato desse praticado por ele, naquele tempo, reputava indigno.

Dizemos naquele tempo porque depois que descobriu a Verdade e passou a explanar a Doutrina de Cristo, compreendeu e se convenceu de que Pátria apenas uma existia – O UNIVERSO – e que a seleção de povos e raças era, como continua a ser, uma conseqüência da ignorância em que viviam, e vivem ainda, todos os povos do planeta Terra.

Como autoridade consular em Santos, deve-se a Luiz de Mattos o fim das cenas desagradáveis havidas naquela cidade, entre trabalhadores e praças de polícia ali destacadas.

Com o entendimento havido entre ele e o Dr. Bernardino de Campos, então Chefe da Polícia, em São Paulo, viram-se serenar os ânimos, restabelecer-se a ordem e voltar à calma e ao trabalho a cidade de Santos, sendo Luiz de Mattos alvo de grande manifestação popular.

Na Capital Federal, tinha ele também casa filial à de Santos para negócios de café, cuja direção estava confiada a um seu irmão. Em café, por mais de uma vez, perdeu e ganhou fortunas.

Era um empreendedor, um criador, um reformador. No comércio de café, foi criador do hoje desenvolvido sistema denominado café “a termo”, que, executado dentro dos seus moldes, é um negócio lícito, inteligente, moderno e de grande vantagem para o lavrador, o intermediário e o comprador.

Entre comerciantes e corretores da praça de Santos, nada era resolvido sem que primeiro fosse ouvido o Luiz, como na intimidade comercial de café o tratavam.

Qualquer negócio de vulto em café, não era resolvido sem o seu conselho. Era voz geral: “Vai consultar primeiro o Luiz”.

Deixou os negócios de café, mais tarde, para recolher-se à vida privada, comprando então grandes áreas de terras em Santos e no Rio de Janeiro.

Homem de vistas largas, previdente com relação ao futuro, tinha a certeza do grande valor que iam adquirir os terrenos, quer urbanos ou rurais.

Estando ainda cheio de vitalidade, sentiu-se mal fora da atividade comercial, e daí o ter deixado Santos para organizar e criar, na Capital Federal, a Empresa de Lixo e o Monopólio das Carnes Verdes, empresas estas entre as mais importantes daquela época, que produziam rendas colossais.

Confiava em demasia nos outros, e daí o ser por vezes furtado nos seus haveres e no seu sossego.

Luiz de Mattos era escravo dos seus deveres, quer para com os seus negócios, quer para com a sua família, e mesmo para com os amigos.

Quando fora dos seus negócios, vivia exclusivamente para a família. Nessas horas de repouso, entregava-se à leitura de obras de autores recomendáveis, e pessoa alguma era capaz de o encontrar sem uma ocupação útil.

Sua biblioteca era rica; e já quando rapaz era mais fácil vê-lo agarrado a um livro, a devorar-lhe os ensinamentos, do que a palestrar.

Amigo da caça e da pesca foi por excelência, um admirador da Natureza. Fugia da sociedade, para entregar-se ao campo.

A educação dos filhos foi esmerada; não consentia que lhes pousasse uma mosca. E não era só aos filhos, mas também aos sobrinhos que lhe eram entregues para, como homem de princípios, zelar pela sua educação e instrução.

Acompanhando o desenvolvimento de todos, ia fazendo um estudo psíquico de cada um. O seu enlevo, a sua preocupação era um filho varão, a quem ele queria preparar para o substituir nas suas grandes empresas.

Somente permitia a freqüência à sua casa de pessoas portadoras de qualidades e virtudes comprovadas.

Era austero, mas de uma bondade sem limites, metódico e disciplinado. Tinha horas para tudo. Com os filhos brincava, fazia ginástica, ensinava-lhes tudo quanto era preciso fazer, quer para estar em sociedade, como para se defender dela e assim dos perversos, ensinando-lhes a manejar desde a arma branca até às armas de fogo.

Às filhas vestiam todas por igual. Mandava ensinar-lhes tudo quanto quisessem aprender, e esses ensinos eram ministrados em casa por professores ou professoras, na presença de uma pessoa de respeito, da família. A sós, com professores ou professoras, pessoa alguma era capaz de vê-las.

Tinha a noção exata da moral cristã. Suas filhas ou sobrinhas à rua não saíam sozinhas, nem tão pouco passavam dias em casa de família alguma, por mais íntima que fosse.

Desde o calçado ao penteado, tudo ele observava, e quando alguma coisa estava fora dos seus princípios, imediatamente mandava modificar.

À sua mesa de refeições, todos tinham que se sentar com compostura e ordem. Cada filha servia à mesa uma semana. Suas filhas sabiam tudo, desde a cozinha à pintura, à música e aos trabalhos de labor; sabiam manejar instrumentos, não só na cozinha, como na sala de visitas.

Em sua casa, nunca se podia estar sem uma ocupação: lendo, bordando, pintando, costurando, etc.

Não tinha religião alguma. Materialista que foi até aos 50 anos, analisou as diversas religiões, através da história, e concluiu que as que não eram filhas da mitologia eram animalizadas.

Luiz de Mattos, sendo um homem de ação, um lutador incondicional, não podia aceitar as rédeas impostas pelas religiões organizadas, e daí o quedar-se livre pensador, materialista honrado, criando para si a religião da família e do dever, para qual vivia.

Acometido de um colapso cardíaco, esteve às portas da sepultura alguns dias e noites, não vendo na sua frente mais que sete palmos de terra gélida, onde iria terminar o corpo.

Questionou a vida e o viver, raciocinou e analisou que não era possível, na sepultura, extinguir-se a vida do homem; algo mais importante devia existir, que era a alma: o que ela era porém, não sabia.

Melhorou ele, mas adoeceram seus filhos; o médico assistente, seu velho amigo Dr. Oliveira Botelho, aconselha-o a não lhes dar remédios e sim uma alimentação escolhida, pois era caso perdido, estavam tuberculosos mas, se houvesse cuidado na alimentação, ainda poderiam prolongar a existência, mas por pouco tempo.

Entristecendo-se com que o seu velho camarada lhe disse, retrucou-lhe Oliveira Botelho: — Luiz, a Medicina nada sabe, vive ainda às apalpadelas e suposições; eu, se não fosse diabético e ignorasse que estou para morrer dentro de meses, ia estudar o espiritismo, pois lá algo de científico existe.

Luiz de Mattos, que abominava o Espiritismo a ponto de fazer suas filhas copiarem obras contra o mesmo, censurou o médico, e disse-lhe que parecia ter perdido o juízo, pretendendo ser espírita. Botelho confirmou o que dissera, e aconselhou Luiz de Mattos a estudar o Espiritismo. Este, que já não suportava sectaristas e muito menos ainda espíritas, pois nessa gente via muitos bêbados, amonstrengados, doidos varridos, julgou um absurdo o conselho de Botelho.

Andam os tempos, Luiz de Mattos estuda Medicina para curar os seus, e chega à conclusão de que o Botelho lhe dissera a verdade com respeito à Medicina, pois, analisando o corpo humano pelo estudo anatômico concluiu não passar este de uma série de engrenagens, tão artisticamente ligadas que a menor molécula afetada, todo o organismo tinha de ressentir-se.

O dentista Fonseca, de quem a família de Luiz de Mattos era cliente, freqüentava assiduamente o Espiritismo Racional e Científico, e aconselhou-o a que tirasse lá receitas e que havia de colher resultado satisfatório, pois curas extraordinárias já se tinham constatado. Acedendo aos seus conselhos, foram as receitas tiradas sem que disso soubesse Luiz de Mattos, à medida que os enfermos iam usando os remédios, melhoras sensíveis obtinham.

Certo dia, o seu amigo M., negociante laborioso, proprietário de uma torrefação de café, o estava esperando para pedir-lhe que fosse com ele ao Espiritismo praticado por certa gente honesta, adiantando que curas importantes estavam sendo feitas. Disse mais, que tendo gastado uma fortuna com o tratamento de sua esposa, sem obter melhoras, estava esperançado de lá encontrar o remédio para curar o mal que avassalava a sua companheira.

Ouvindo-o, atentamente, Luiz de Mattos diz-lhe:

— Mas então tu M., queres perder toda a tua fortuna? Não sabes que os praticantes do Espiritismo são uma corja de patifes? Toma juízo M., e deixa-te disso; eu não te posso acompanhar a tais antros, onde só se encontram bugigangas, bêbados, exploradores e patifes da pior espécie. Não te metas com semelhante gente, que acabas mal.

O amigo ficou muito entristecido, mas não perdeu a esperança de conseguir a sua companhia.

Todos os dias Luiz de Mattos por ali passava, e sempre entrava para cumprimentar o amigo M. E assim é que no outro dia este volta a pedir-lhe, com insistência, que fosse com ele, não acedendo ainda desta vez Luiz de Mattos, que sustentou o que anteriormente dissera. Ao terceiro dia, como de costume, entra Luiz de Mattos no estabelecimento do amigo M.; sentado lendo jornal, encontrava-se Luiz Alves Thomaz, vindo de Portugal para tratar da saúde, que há esse tempo não mantinha relações íntimas com Luiz de Mattos, mas, assistindo à reiteração insistente do pedido que M. fazia a Luiz de Mattos, disse-lhe Thomaz:

— Se o Sr. Comendador Mattos for com o M., eu vou também. Mattos, à vista do exposto e da insistência, disse:

— Pois bem, eu vou. Às tantas horas passem lá por casa, para seguirmos.

Felizes pela resposta, despediram-se, e à hora marcada partiram para a casa de Luiz de Mattos; este já estava preparado; saíram então a caminho do Espiritismo, ainda desconhecido por eles, movidos mais por curiosidade do que pela vontade de praticá-lo.

Ao chegar à porta dum “casebrezinho”, já o estava esperando um homem que lhe diz:

— Sr. Comendador, o nosso Presidente Astral, Padre Antônio Vieira, ordenou-nos que, quando o senhor chegasse, lhe déssemos a Presidência dos Trabalhos.

— Está maluco, homem, eu não entendo disso, eu fico mesmo aqui da porta a presenciar. Mas, diante da insistência, quer do homem que o esperava à porta, quer dos seus dois amigos, lá foi ele para a cabeceira da mesa.

Foi na cidade de Santos-SP, portanto, em 1910, que um pequeno grupo de três ou quatro investigadores, embora incrédulos, assistiam a uma modesta sessão, na qual trabalhava um médium sonambúlico, um senhor cabo-verdiano.

Os fatos que ali se desdobraram, convenceram estes senhores de boa vontade, desejosos de encontrar alguma coisa de superior, que realmente havia naquelas manifestações e que era necessário investigar.

E de fato, pouco a pouco, pacientemente investigando, sem desfalecimento, ora chegando a conclusões seguras, ora encontrando falhas e procurando a razão porque, puderam o Centro Amor e Caridade de Santos, posteriormente Redemptor e hoje Racionalismo Cristão, verdadeiros laboratórios físicos, onde a poder de muito sacrifício, chegar a um resultado positivo, que aliás, vem sempre ao encontro dos estudiosos.

Aberta a sessão, feitas as preces (irradiações), atua o Guia Médico no médium sentado à direita, e lidos diversos nomes, a cada um eram prescritas instruções.

Curioso e investigador, Luiz de Mattos que, atentamente, presenciara tudo, pede, após o término dos Trabalhos, os originais das receitas levando-os para a sua casa, em cujo escritório se fecha e, dirigindo-se à sua mesa de trabalho, senta-se e procura concentrar-se, fechando os olhos para fazer o mesmo que havia visto; mal sabia ele que estava correndo um grande risco.

Examinando o que havia escrito, verificou que o que o médium deixara no papel estava escrito em ordem, procurou fazer o mesmo, e não conseguiu.

Principiou aí o início do seu raciocínio sobre a Força fora da Matéria. Ele conhecia medicina, era inteligente e nada pudera fazer, ao passo que o médium, quase analfabeto, tinha produzido trabalho admirável.

No dia seguinte, já não eram os amigos M. e Luiz Thomaz que precisavam pedir o seu comparecimento; era ele que, desejoso de estudar, os avisava para, às horas certas, não faltarem.

Chegada à hora, de novo partiram para o Espiritismo e, como anteriormente, havia ordem, no Centro, dada pelo Presidente Astral, para que assumisse a presidência Luiz de Mattos, logo que chegasse.

Assumida por ele a presidência, na hora dos Trabalhos, após o receituário e algumas instruções, o Presidente Astral pede que se concentrem e é dada, por escrito, uma comunicação em francês legível, livre de erros, causando sério espanto a Luiz de Mattos, e tanto, que este chegou a perguntar, após a Sessão, se o médium tinha ilustração, e mandando-o escrever, após os trabalhos, a fim de se certificar se era verdade ou não. Não fosse estar sendo vítima de alguma mistificação …

Informado das condições morais, materiais e intelectuais do médium, certo ficou de que fenômeno importante se passava.

Conversando com Luiz Thomaz e outro amigo, disse-lhes que o que vinha observando causava-lhe grande espanto, forçando-o a meditar sobre a causa dos efeitos que observava.

Novamente, no dia seguinte, para lá foram.

Iniciados os trabalhos, pede ele receita para os seus filhos e, após receitar, o Guia Médico, Dr. Custódio Duarte, diz-lhe: “Já são meus enfermos, estão melhorando e haverão de ficar bons”. Admirou-se, e só nesse dia ficou sabendo que, de fato, já os seus se estavam tratando lá.

Dada também uma comunicação em inglês, ele a analisou e verificou estar claramente legível.

No fim da sessão que Luiz de Mattos, sem interrupção vinha presidindo, atua um espírito num dos médiuns ao lado dele e insulta-o barbaramente. Desconhecendo esse fenômeno e supondo fosse o médium o insultador, prepara-se para o devido revide, quando rapidamente fica atuado o outro médium, e falando-lhe Padre Antônio Vieira:

— Acalma-te! Pois então não vês que o médium é um simples porta-voz dos espíritos? Como querias agir por essa forma, se no espírito não podias atingir?

— Tem paciência, estuda, eu te ajudarei; porém, é a ti que compete doutrinar, não só esse, como tantos milhares de outros que te irão aparecer, e assim precisa ajudar-me a limpar a atmosfera da Terra, que nela se tem quedado para a prática, ainda mais desenvolvida de crimes, que também já praticavam quando encarnados.

Acordaste tarde; era para aos 26 anos teres iniciado comigo estes trabalhos, mas já que despertaste agora, e foi preciso que te sacudisse o ataque cardíaco para te lembrares que a vida não desce à sepultura e sim ascende ao Espaço, a ligar-se a outras vidas, não podes mais perder tempo. Ajuda-me, pois, meu filho, estuda, e outros a ti se juntarão para levar por diante a bela doutrina de Cristo.

— Esse espírito que acabou de manifestar-se é Ignácio de Loyola, teu e meu companheiro em diversas encarnações. Há 400 anos que ele se queda na atmosfera da Terra, como terrível obsessor e chefe de grandes falanges. Cabe a ti doutriná-lo e mostrar-lhe o erro em que vive.

Acalmado tudo e encerrada a Sessão, não mais faltou Luiz de Mattos aos trabalhos, nesse Centro, pobre materialmente falando, mas riquíssimo de luz, de inteligência, de saber, enfim.

Nas sessões seguintes, novamente se manifesta Loyola e, prevenido que estava Luiz de Mattos pelo Guia Padre Antônio Vieira, deixou Loyola falar à vontade. De súbito, Luiz de Mattos entra numa longa dissertação da Natureza, referindo-se a Deus, não à semelhança do homem, mas como Inteligência Universal, a irradiar por toda a parte onde existe vida.

Loyola espanta-se do que ouve do seu ex-companheiro jesuíta, quando Frei Bernardo ou São Bernardo, e pergunta-lhe:

— Mas tu que, como eu, não acreditavas em Deus, tu que até a pouco eras ateu, eras materialista, como e onde foste aprender coisas tão belas, como as que me explicaste?

— Amigo, o grande Padre Antônio Vieira, de nós muito conhecido, disse-me ser preciso acordar, que no Universo apenas existem Força e Matéria e que na Terra, os encarnados são instrumentos simplesmente do bem ou do mal. Portanto, se o que eu te disse te espantou, eu nada mais fui que porta-voz das Forças Superiores, que a seu encargo têm a remodelação do planeta e tu a elas precisas pertencer.

Grande foi o diálogo havido, porém, o resumimos e damos apenas uma idéia de como se iniciou o Chefe do Racionalismo Cristão nesta bela doutrina:

Enquanto Luiz de Mattos dissertava, com a sua voz de trovão, de orador, de impulsionador, Loyola cada vez mais iluminava a sua alma e, rompendo o véu de negrura em que estava envolvido ia vendo, luminoso, radiante, o espírito de Luiz de Mattos, assistido por Antônio Vieira, Camões, São Pedro, Custódio Duarte e tantas outras almas suas conhecidas.

Reconhecendo-se vencido pelas verdades que havia proferido Luiz de Mattos, pede-lhe que irradie sobre a sua alma, reconhecendo que foi o maior dos desgraçados, que se sentia sem coragem para olhar para o quadro das suas obras, já agora tão nitidamente gravadas na sua aura e que, ao rememorar o passado, não via outra coisa senão barbaridades; que o ajudasse, com sua irradiação de valor, pois queria, desejava, precisava, entrar em lutas para o bem geral, onde mais depressa pudesse descontar as suas faltas.

Retirando-se Loyola, esclarecido, havia dado Luiz de Mattos o primeiro passo para a explanação da Verdade, tão desejada por Cristo.

Os companheiros e amigos de Luiz de Mattos, presentes àquela Sessão, disseram-lhe que estavam impressionados com o que dele ouviram, ao que ele respondeu não mais se recordar do que dissera, e que tudo aquilo lhe viera de momento, não sabendo mesmo explicar como se prestara a definir a Inteligência Universal, quando nem em Cristo ele acreditava.

Agora, porém, analisando a sua obra, concluía ter sido ele um homem lutador, valoroso e apto a reagir a todos os insultos no terreno da luta.

Além destes fenômenos, muitos outros foram precisos para que a alma investigadora de Luiz de Mattos não vacilasse. E assim levou ele ano e meio em consecutivos estudos, até que um dia o Guia, Pinheiro Chagas, lhe disse:

— Meu filho, é necessário que te disponhas a iniciar a Obra, pois estás demorando muito.
Nessa altura já o Centro não era no casebre, mas sim numa boa casa, de propriedade de Luiz Thomaz.

Luiz de Mattos, entretanto, ressentia-se ainda da prevenção que tinha com o baixo Espiritismo e, como via todos que nele se metiam acabar na miséria, pensava na Família, pensava no que era preciso despender com a criação de um Centro à altura de tão bela Doutrina, e receava não poder arcar com tamanha responsabilidade.

O Astral Superior, vendo-lhe na aura a preocupação, insiste, por intermédio do Guia, Custódio Duarte, em que era preciso caminhar. Assim assediado, responde Luiz de Mattos.

— Sim…estou pronto para a luta, contando que aos meus nada venha a faltar. — Satisfaz-nos a tua resposta, disse Custódio Duarte, e certo podes estar, que nada te faltará a ti nem aos teus, tudo há de aumentar e àqueles que junto de ti viverem nada faltará. A ti, a parte espiritual, a Luiz Thomaz, a parte material. Sois os dois responsáveis por esta Doutrina. Caminhai unidos, e por vós zelaremos, uma vez que em pensamentos procureis religar-vos a nós.

Assim foi iniciada a Doutrina da Verdade, em 26 de janeiro de 1910, na cidade de Santos, construindo-se um edifício para a sua explanação na Avenida Ana Costa, 67, inaugurado em 1912, ano em que foi inaugurado também o Racionalismo Cristão, no Rio de Janeiro, na Rua Jorge Rudge, 121, para onde, por ordem Superior, passou a Chefia da Doutrina Racionalista Cristã, visto ser a Capital do país.

Compreendida esta Doutrina por Luiz de Mattos, a ela se entregou, de corpo e alma, como lutador incansável, sem a menor dúvida ou vacilação.

Iniciou em Santos, uma larga campanha de difusão dos princípios, escrevendo uma série de artigos na “Tribuna” sobre a loucura, assim como outras enfermidades julgadas incuráveis até então, através das teses espíritas da obsessão, cujo tratamento era completamente eficiente através do método aplicado pelo Espiritismo Racional e Científico, desenvolvido no Centro Amor e Caridade de Santos, inicialmente.

Os médicos de Santos ficaram perplexos e com ele se foram entender, a fim de que o mesmo evitasse escrever contra a classe médica em seus artigos. Reconheciam o que dizia Luiz de Mattos, porém, não podiam acompanhá-lo. Prontificaram-se a assinar toda receita fornecida pelo Centro presidido por ele e mais, um dos médicos foi ao farmacêutico local, dizer-lhe que aviasse todas as receitas enviadas por Mattos, que este assumia toda a responsabilidade.

Até os cinqüenta anos de idade, viveu ele envolvido em negócios e cifras, ganhando e perdendo fortunas nas especulações de terrenos e café ou na direção de importantes empresas; de 1910 em diante passou a dedicar-se ao estudo do então Espiritismo Racional e Científico Cristão, que mais adiante codificaria em Racionalismo Cristão, para explaná-lo amplamente.

Passou assim, do materialismo dos interesses comerciais para o espiritualismo singelo e puro mas sempre exigente e severo.

A partir daí, seu trabalho, as ações que desenvolvia, sua atividade constante, visavam o bem estar do próximo, o progresso espiritual de seu semelhante, a regeneração dos transviados e a orientação às novas gerações.

A sua ânsia incontida de esclarecer, de combater hábitos e costumes repletos de misticismos e dogmas arcaicos, de abrir os olhos da multidão para a simplicidade dos postulados racionalistas, já não bastavam seus artigos e livros, suas doutrinações nem as conferências públicas que realizava com grande sucesso, e a 19 de dezembro de 1916, escrevia Luiz de Mattos no primeiro exemplar do seu jornal, “A Razão”, que acabara de fundar, “Mais que econômica e financeira, é moral a crise nacional”.

E vieram as campanhas político-religiosas, as polêmicas e outros livros...

Naquele tempo, dizer-se alguém espiritualista era isolar-se ou fechar-se num círculo de ferro voluntariamente e Luiz de Mattos disse-o abertamente.

Não havia nos jornais de então, nem as modestas seções nas quais alguns deles publicam hoje resumidas notas das atividades de várias religiões e A Razão diariamente publicava sua temida Nota...

Os livros sobre assuntos doutrinários, eram considerados clandestinos, sua leitura foi proibida de ser feita por membros de algumas seitas religiosas.

Os anarquistas na ocasião, faziam explodir bombas no 1º de maio, as ruas fortemente patrulhadas e Luiz de Mattos publicava suas Cartas combatendo idéias retrógradas e escrevia a favor dos operários, mostrando a necessidade da melhoria das condições de vida e preconizando a organização dos Institutos de Previdência Social.

Espírito superior, que pairava acima das paixões humanas, Luiz de Mattos sofria pelo seu semelhante. Sua alma desprendida e altaneira, tantas vezes incompreendida, sensível às desgraças desta vida de misérias e lutas, mas também corajosa bastante para combatê-las e procurar suavizá-las, continuava sua grande luta.

Trabalhou, doutrinou e escreveu pelo bem. Sua pena destemida, quando se lançava pela confraternização das criaturas, sabia sonhar em páginas admiráveis de literatura, como também chorava diante dos infortúnios e ingratidões dos seres, que procurava minorar com os esclarecimentos da doutrina que professava.

Desse devotamento em prol da melhoria de uns e outros, aos quais nada pedia, de suas observações sobre a vida fora da matéria organizada e suas relações com este mundo, do estudo sobre o poder do pensamento e sua aplicação ao invisível, da análise da lei de atração no campo psíquico e de tantas outras, surgiu sua obra máxima; o Racionalismo Cristão!

Fundado o Racionalismo Cristão, para o estudo e pesquisa das coisas transcendentais da vida, deu início a uma pregação liberal, cheia de calor e de entusiasmo, tendente a desfazer as idéias que conduzem ao fanatismo e as superstições, visando substituir a adoração de imagens, mitos, dogmas, pelo culto luminoso do lar, da família e da humanidade.

Em lugar da opressão a liberdade bem compreendida, tendo a pátria por símbolo e o trabalho por devoção; por princípio, o exercício pleno dos direitos, o honrado cumprimento dos deveres, por fim.

Não era, como vemos, a rebelião que ele pregava, muito menos a violência, mas da união sincera e fraternal dos homens de todas as raças, convencendo-os da sua origem espiritual comum e de que somos, em essência, todos irmão em evolução.

Suas palavras serviam para dar conforto e coragem aos aflitos e as suas ações decididas e oportunas revigoravam os fortes.

Em 23 de Novembro de 1925, às 22 horas, desencarna sua esposa, Maria Thomazia Machado Antas, que na intimidade apenas assinava Maria Thomazia.

Três meses após a desencarnação de sua esposa, Luiz de Mattos desencarna. Foi no dia 15 de janeiro de 1926, quando completava, exatamente, 66 anos e 12 dias de vida física.

A luta despendida por Luiz de Mattos, espírito dinâmico, empreendedor, durou 14 anos, de 1912 a 1926, quando o seu organismo combalido, não teve mais forças para resistir, esgotado pelo trabalho incessante, quase sempre das 5 horas da manhã às 22 horas, agravado com as desilusões e sofrimentos morais, impostos por criaturas que o não compreendiam e o faziam sofrer, conforme relatamos abaixo:

Sua desencarnação deu-se antes do tempo, conforme a Doutrina Racionalista Cristã, pois o humano ser estaria apto a viver ao menos setenta anos. Concorreram para a antecipar, os desgostos dados por amigos ingratos, a falência de médiuns a quem estimava como filhos, a quem ele esclarecia carinhosamente, sempre desejoso de vê-los progredirem.

No jornal “A Razão”, quantas noites de tremendas lutas, ele passou. Também experimentou muitas contrariedades e grandes aborrecimentos por se deixar levar pela boa fé, pela confiança em demasia em pessoas que não conhecia.

A luta maior que travou, foi para varrer do seu espírito as dores produzidas pelas ingratidões, pela perversidade dos que se diziam seus amigos e se tornaram traidores e vilões. Foram justamente os desgostos ocasionados pelo fechamento do jornal “A Razão”, que ocasionaram a sua desencarnação prematura.

A filha querida de Luiz de Mattos, Mariazinha, já casada com Antonio Cottas, com suas duas filhas mais velhas, passava alguns dias na casa de Luiz Thomaz, em Santos, refazendo-se do abalo sofrido pela desencarnação de sua mãe, três meses antes quando, às 7 horas da manhã, um telefonema do Rio chamava Luiz Thomaz. Este, parecendo não ter entendido nada do que diziam, pediu-me, agitado e nervoso, que fosse à casa de minha irmã fazer uma ligação para o Rio, pois o telefone dele não estava funcionando bem.
Para lá seguiu imediatamente e fez a ligação. Um terrível golpe a atingiu... O que ouviu através do fio telefônico foram estas palavras: "Teu pai morreu...” Ficou aturdida e, sem querer acreditar, insistiu por mais notícias. A resposta, porém, foi a repetição do que ouvira antes.

Os soluços lhe embargaram a voz e a irmã, tirando o fone de sua mão, ouviu, então, detalhadamente, toda a triste notícia.
Ficaram atônitos. Luiz Thomaz estava emocionadíssimo! Não teríam tempo de voltar ao Rio, para assistir ao sepultamento, pois ainda não havia o transporte aéreo regular entre Santos-SP e a Capital Federal, Rio de Janeiro-RJ e o seu enterro seria na tarde do mesmo dia.

Cheia de mágoa e de dor, chorava desesperadamente, por tê-lo deixado há tão poucos dias mais animado e ainda andando. Mal sabia que não voltaria a vê-lo...

Maria Cottas, (Mariazinha), tinha por seu pai uma profunda admiração! Ele era tudo para ela! Como homem, dizia ela, achava-o simpático, bonito mesmo, altivo, diplomata e de fino trato. Como pai, era para ela o melhor do mundo; carinhoso, conselheiro, amigo, grandemente emotivo.

Enérgico, severo mesmo, em certos momentos, mas tolerante e bastante compreensivo em outros. Era muito agarrado aos netos e grande amigo de toda criança. Naquele momento, a sua perda, para mim, ainda Mariazinha, era irreparável! Sentia-me só no mundo, pois, apesar de possuir um bom marido, tinha uma confiança ilimitada em meu pai, que, para mim, era o melhor confidente e o melhor conselheiro.

Voltou ao Rio de Janeiro dois dias depois, no primeiro vapor que zarpou do Porto de Santos. Era o "Comandante Capela" e, talvez, um pouco maior do que uma barca de Niterói, mas a ansiedade era tanta de chegar ao Rio, de vir para perto de seu marido, Antonio do Nascimento Cottas, que ficara no Rio, que não quis esperar mais. Felizmente, conseguiu suportar 24 horas de viagem numa autêntica casca de noz, que até deixava entrar água no convés...

Encontrou seu marido acabrunhado e bastante apreensivo, pois, além de seus trabalhos de negociante, recebia ele o sério e pesadíssimo encargo legado por Luiz de Mattos – a chefia do Racionalismo Cristão.

Devo confessar, dizia Mariazinha, que também fiquei aturdida com a brusca mudança da vida que iríamos ter e com a pesada responsabilidade que indiretamente também me atingia. Saía da minha pacata vida de mãe e de esposa, até então vivida, apenas cuidando do meu lar e de minhas filhas, para a vida de lutas e de canseiras, que passaria a ter, como companheira do chefe do Racionalismo Cristão.

Meu marido, porém, foi pouco a pouco vencendo o acabrunhamento em que se encontrava com a brusca partida do sogro Luiz de Mattos e transformou-se no valente timoneiro e excelente doutrinador que, embora saiba ferir a sua modéstia, devo hoje, em justiça, aqui reconhecer.

Luiz de Mattos desencarnou em 15 de Janeiro de 1926, na cidade do Rio de Janeiro, às seis horas da manhã, quando completava 66 anos de idade. Foi sepultado no cemitério de São Francisco Xavier.

Desencarnou lúcido, calmo, em sua residência. Por ocasião da desencarnação dessa nobre alma, ocorreu um fenômeno psíquico, relatado pelo Sr. Eduardo Teixeira, na época, Encarregado Geral do Centro Espírita Redentor. Disse ele, que nesse dia ocorreu o desdobramento de Luiz de Mattos.

Veio, quando ainda em vida atuar no médium e doutrinar a assistência, com a sua linguagem característica, franca e leal; com a sua verve ferina, quando queria causticar alguém, como só ele sabia fazer, ou então com doçura, quando se apresentava algum espírito sofredor e ignorante, enfim com todo aquele estilo particular seu, tão familiar aos que o conheciam. Pois bem, ouvimo-lo através do médium e terminada a Sessão, soubemos que havia desencarnado, no pavimento superior do Centro, onde residia, no instante em que atuava na médium.

Nessa época, o Centro Espírita Redentor realizava todos os dias de manhã, das 6:30 às 7:00 horas, Sessões de desdobramento.

No mesmo dia, na Sessão Pública, às 20:00 horas, Luiz de Mattos veio novamente comunicar à Assistência a sua desencarnação.

Apesar de ser o Astral Superior quem faz o Espiritismo Racional e Cientifico no Centro Redentor e seus Filiados, os primeiros momentos da vida do Centro, sem o seu grande timoneiro físico, Luiz de Mattos, foram de sérias apreensões, para os seus dirigentes materiais.

Comunicação do Espírito de Luiz de Mattos, dada no mesmo dia da sua desencarnação:

Vai-vos parecer talvez muito estranho, que eu vos venha, por intermédio de um instrumento do Redentor, participar-vos de viva voz, que Luiz de Mattos, aquele que foi Presidente físico deste Centro durante dezesseis anos, desencarnou pela manhã de hoje, ficando portanto completamente livre da matéria que tanto o enojava e fazia sofrer.

Sim! Sou livre! Estou livre em absoluto da carne que me envolvia, do corpo que me enleava, e não permitia ao meu espírito de expandir-se, de revelar-se tal qual era, de mostrar-se plenamente na sua independência, na sua força, no seu valor, na sua própria essência!

Enganam-se aqueles tolos que pensam que eu morri, só porque o meu corpo físico foi ainda há pouco, enterrado entre quatro tábuas, para debaixo de quatro palmos de terra.

Não! Eu não morri, porque estou mais vivo do que nunca, e minha vida agora é mais intensa, e mais luminosa, terá para vós maior proveito, porque a verdadeira vida é aquela que se vive depois da morte do corpo.

Durante o tempo que eu a mim próprio determinei, e que vos não é dado saber até quando, eu aqui virei para vos causticar, para vos chicotear, nos vossos vícios, nos vossos desejos intemperados, nas vossas misérias, como sempre o fiz, enquanto a matéria tinha vida anímica, e fá-lo-ei sempre, sim amigos, porque Luiz de Mattos, quando em vida física, nunca teve medo, nunca temeu ninguém, nunca vacilou ante quem quer que seja.

Para poder bem cumprir o seu dever, espezinhou preconceitos, pôs à parte, família e amizades, e sozinho de fronte erguida, caminhando contra tudo e contra todos, ele venceu sempre, altivamente, quer o queiram os tolos pretensiosos quer não.

Do muito que tinha e queria dizer-vos e que o tempo não m’o permite, recomendo-vos mais do que nunca que os tempos são chegados, que o Racionalismo há de vencer, custe o que custar, e que esta Doutrina, que iniciei, e que do Astral Superior é, e este Centro que aqui está aberto para esclarecer-vos, não se acabará nunca.

Há de pelejar pelo esclarecimento das almas, pela civilização do mundo, e pelo bem da humanidade, para o seu progresso, e para a sua evolução, porque mesmo fora da atmosfera terrena, e sem o corpo carnal, eu aqui saberei ainda lutar e vencer, como soube combater e vencer na vida física, o que mais fácil me será agora por estar livre das contingências humanas, embora por pouco espaço de tempo isso seja.

Olhai amigos, que já é tempo de cuidardes um pouco das vossas almas, e deixardes de ligar tanta importância à matéria que nada é e nada vale, e que em passando vinte e quatro horas após o desaparecimento da vida anímica, começa logo a cheirar mal; e apesar de alguns saberem disso, ainda em redor do meu corpo físico se fizeram coisas que eu não queria, coisas que eu sempre condenei como inúteis.

Tomai sentido como procedeis e agis, e olhai que no Espaço as coisas são muito sérias, a mim não me surpreendeu porque já as conhecia, porque já sabia o que ele era e como as coisas tem representação diversa das da Terra.

Tratai de estudar, de reagir a tempo, ou vosso fim será tristíssimo, será desgraçadíssimo, dói-me profundamente a alma, agora que sou espírito, ver-vos tão indiferentes e empedernidos, eu que tanto por vós me sacrifiquei, mais do que vós mereceis, a ponto de convosco despender demasiado a minha vida anímica, não me dando assim tempo suficiente para terminar a minha obra, que o não ficou, mas há de sê-lo, mas isto não é convosco nem vos diz respeito.

Portanto, fazei o que quiserdes, os livros aí estão, a nossa Casa aí está aberta de par em par, aproveitai se o quereis, e se não, todo o mal será vosso. Mas, entretanto, apesar destas palavras austeras, com ela vai toda a irradiação de amor e de paz, do que na Terra foi e se chamou Luiz de Mattos.”

Mas, olhadas as coisas pela sua realidade, e todos a postos no cumprimento do dever, tudo continuou em boa ordem e plena normalidade sob a Presidência de Antonio do Nascimento Cottas, esclarecido quando necessário pelo Espírito de Luiz de Mattos e outros a serviço do Astral Superior.

Luiz de Mattos, viúvo de Maria Thomazia, deixou duas filhas, Leonor, a mais velha e Maria Julia e um filho, Cattulo de Mattos, que mais tarde resolveu estudar a Doutrina Racionalista Cristã.

Em 17 de janeiro daquele ano, dois dias após a desencarnação de Luiz de Mattos, é realizada a reunião de Diretoria extraordinária, para indicar, conforme vontade do mesmo, o Sr. Antonio do Nascimento Cottas como presidente do Centro Espírita Redentor, substituto de Luiz de Mattos. Nesta ocasião, foi lida uma carta produzida por Luiz de Mattos cinco anos antes de sua desencarnação e entregue para Antonio do Nascimento Cottas, para ser lida em reunião de Diretoria, a fim de tomarem conhecimento das suas determinações. Dentre outras coisas, Luiz de Mattos indicava Antonio do Nascimento Cottas, seu substituto.

Este tópico pode ser produzido a partir das informações contidas na obra Páginas Antigas, de autores diversos, editada pelo Racionalismo Cristão em 1954 e do trabalho intitulado A Vida e a Obra de Luiz de Mattos de Fernando Faria.